terça-feira, 26 de outubro de 2010

O SPORT PERDEU UM CRAQUE, O FUTEBOL GANHOU UM REI: PELÉ!

23 de outubro de 2010, o REI completou 70 anos. Recebeu muitas e merecidas homenagens. PARABÉNS AO REI! Mas o que poucos sabem - e nem ele mesmo sabia -, é que a HISTÓRIA poderia ter sido bem diferente: PELÉ foi oferecido ao SPORT, que não o aceitou. Afinal, queria um jogador "de peso", não uma promessa:



Causo? Lenda? Não! A mais pura verdade. Vou lhes deixar com o jornalista Sérgio Miguel Buarque, do Diário de Pernambuco, que em 23/01/2000, na reportagem O dia em que o Sport disse não a Pelé, assim escreveu:

"(...)  Durante muitos anos esse fato foi questionado e estava fadado a entrar para a posteridade como mais uma lenda do futebol.

Mas agora, 42 anos depois, os incrédulos terão que se curvar às evidências. A reportagem do DIARIO teve acesso a um telegrama, que se julgava perdido ou inexistente, comprovando o oferecimento de Pelé ao rubro-negro pernambucano. A relíquia estava guardada a sete chaves pela família Menezes, a mesma de Ademir, artilheiro da Copa de 50.

Adamir, primo do Queixada, foi quem intermediou a negociação. Por isso, ele acabou ficando com o documento. "Papai era representante comercial e tinha muitos contatos com os clubes de São Paulo. Conversando com o presidente do Santos, ele pediu alguns reforços para o Sport. O telegrama foi a resposta a esse pedido", explica Ronald Menezes.

Com a morte de Adamir, a guarda do precioso telegrama ficou com sua esposa, dona Elza Menezes, e com os cinco filhos do casal, todos rubro-negros doentes, de carteirinha. "Nós sabíamos que, algum dia, iríamos dar esse documento histórico de presente ao Sport. Por isso, guardamos com tanto carinho", falou Adamir Júnior, o mais novo do clã dos Menezes.

Os Menezes guardaram o telegrama com tanto cuidado que a história quase cai no esquecimento. Segundo dona Elza, nem o próprio Pelé sabe da existência do documento. "Sempre quando vinha ao Recife, acompanhando a equipe do Santos, Pelé passava em nossa casa. Lembro que a rua ficava cheia. Mas eu nunca mostrei o telegrama a ele e acredito que meu marido também não".

Apesar da vontade da família em repassar o telegrama ao Sport, a oportunidade só surgiu por acaso, num churrasco, semana passada. Os irmãos Menezes encontraram o diretor de Futebol do clube, Fernando Lima. No meio da conversa surgiu o assunto. Fernando não perdeu tempo e confiscou o documento para o museu rubro-negro. "Vamos fazer uma grande homenagem a esta família para agradecer a doação", avisou o dirigente. (...)"


O fato: novembro de 1957, a fim de reforçar a equipe, o SPORT procurou o SANTOS. Queria OLAVO. Modesto Roma negou o empréstimo de Olavo, e ofereceu CIRO e o "garoto PELÉ, de muito futuro". Mas JOSÉ ROZENBLIT - um dos melhores diretores e presidentes da HISTÓRIA DO SPORT -, não aceitou.

Pelé ficou no Santos. Meses depois, na Suécia, conquistava a COPA DO MUNDO e ganhava o título de REI DO FUTEBOL!

E se ficasse no SPORT? Seria craque do mesmo jeito! O convocariam para a SELEÇÃO? Provavelmente, pelo menos em 1958, não! Assim como aconteceu com ADEMIR, VAVÁ, MANGA, RILDO, JUNINHO PERNAMBUCANO - ex-jogadores do SPORT -, só o convocariam depois de ir jogar no "SUL MARAVILHA"...

Como consolo, em 14 de janeiro de 1963, antes do jogo SPORT 1 x 1 Santos, pela TAÇA BRASIL, na presença de mais de 28.000 pessoas - inclusive eu -, PELÉ recebeu o TÍTULO Nº 001 DE SÓCIO PATRIMONIAL DO SPORT.

Mais de 50 anos depois, graças à Nestlé, PELÉ pôde, finalmente, vestir a camisa do SPORT:

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O VOTO DO NORDESTE: PARA ALÉM DO PRECONCEITO

Tânia Bacelar de Araújo (*)


A ampla vantagem da candidata Dilma Rousseff no primeiro turno no Nordeste reacende o preconceito de parte de nossas elites e da grande mídia face às camadas mais pobres da sociedade brasileira e em especial face ao voto dos nordestinos. Como se a população mais pobre não fosse capaz de compreender a vida política e nela atuar em favor de seus interesses e em defesa de seus direitos. Não "soubesse" votar.

Desta vez, a correlação com os programas de proteção social, em especial o "Bolsa Família" serviu de lastro para essas análises parciais e eivadas de preconceito. E como a maior parte da população pobre do país está no Nordeste, no Norte e nas periferias das grandes cidades (vale lembrar que o Sudeste abriga 25% das famílias atendidas pelo "Bolsa Família"), os "grotões"- como nos tratam tais analistas ? teriam avermelhado. Mas os beneficiários destes Programas no Nordeste não são suficientemente numerosos para responder pelos percentuais elevados obtidos por Dilma no primeiro turno : mais de 2/3 dos votos no MA, PI e CE, mais de 50% nos demais estados, e cerca de 60% no total ( contra 20% dados a Serra).

A visão simplista e preconceituosa não consegue dar conta do que se passou nesta região nos anos recentes e que explica a tendência do voto para Governadores, parlamentares e candidatos a Presidente no Nordeste.

A marca importante do Governo Lula foi a retomada gradual de políticas nacionais, valendo destacar que elas foram um dos principais focos do desmonte do Estado nos anos 90. Muitas tiveram como norte o combate às desigualdades sociais e regionais do Brasil. E isso é bom para o Nordeste.

Por outro lado, ao invés da opção estratégica pela "inserção competitiva" do Brasil na globalização - que concentra investimentos nas regiões já mais estruturadas e dinâmicas e que marcou os dois governos do PSDB -, os Governos de Lula optaram pela integração nacional ao fundar a estratégia de crescimento na produção e consumo de massa, o que favoreceu enormemente o Nordeste. Na inserção competitiva, o Nordeste era visto apenas por alguns "clusters" (turismo, fruticultura irrigada, agronegócio graneleiro...) enquanto nos anos recentes a maioria dos seus segmentos produtivos se dinamizaram, fazendo a região ser revisitada pelos empreendedores nacionais e internacionais.

Por seu turno, a estratégia de atacar pelo lado da demanda, com políticas sociais, política de reajuste real elevado do salário mínimo e a de ampliação significativa do crédito, teve impacto muito positivo no Nordeste. A região liderou - junto com o Norte - as vendas no comercio varejista do país entre 2003 e 2009. E o dinamismo do consumo atraiu investimentos para a região. Redes de supermercados, grandes magazines, indústrias alimentares e de bebidas, entre outros, expandiram sua presença no Nordeste ao mesmo tempo em que as pequenas e medias empresas locais ampliavam sua produção.

Além disso, mudanças nas políticas da Petrobras influíram muito na dinâmica econômica regional como a decisão de investir em novas refinarias (uma em construção e mais duas previstas) e em patrocinar - via suas compras - a retomada da indústria naval brasileira, o que levou o Nordeste a captar vários estaleiros.

Igualmente importante foi a política de ampliação dos investimentos em infra-estrutura - foco principal do PAC - que beneficiou o Nordeste com recursos que somados tem peso no total dos investimentos previstos superior a participação do Nordeste na economia nacional. No seu rastro,a construção civil "bombou" na região.

A política de ampliação das Universidades Federais e de expansão da rede de ensino profissional também atingiu favoravelmente o Nordeste, em especial cidades médias de seu interior. Merece destaque ainda a ampliação dos investimentos em C&T que trouxe para Universidades do Nordeste a liderança de Institutos Nacionais ? antes fortemente concentrados no Sudeste - dentre os quais se destaca o Instituto de Fármacos (na UFPE) e o Instituto de Neurociências instalado na região metropolitana de Natal sob a liderança do cientista brasileiro Miguel Nicolelis que organizará uma verdadeira ?cidade da ciência? num dos municípios mais pobres do RN (Macaíba).

Igualmente importante foi quebrar o mito de que a agricultura familiar era inviável. O PRONAF mais que sextuplicou seus investimentos entre 2002 e 2010 e outros programas e instrumentos de política foram criados ( seguro ? safra , Programa de Compra de Alimentos, estimulo a compras locais pela Merenda Escolar, entre outros) e o recente Censo Agropecuário mostrou que a agropecuária de base familiar gera 3 em cada 4 empregos rurais do país e responde por quase 40% do valor da produção agrícola nacional. E o Nordeste se beneficiou muito desta política, pois abriga 43% da população economicamente ativa do setor agrícola brasileiro.

Resultado: o Nordeste liderou o crescimento do emprego formal no país com 5,9% de crescimento ao ano entre 2003 e 2009, taxa superior a de 5,4% registrada para o Brasil como um todo, e aos 5,2% do Sudeste, segundo dados da RAIS.

Daí a ampla aprovação do Governo Lula em todos os Estados e nas diversas camadas da sociedade nordestina se refletir na acolhida a Dilma. Não é o voto da submissão - como antes - da desinformação, ou da ignorância. É o voto da auto- confiança recuperada, do reconhecimento do correto direcionamento de políticas estratégicas e da esperança na consolidação de avanços alcançados - alguns ainda incipientes e outros insuficientes. É o voto na aposta de que o Nordeste não é só miséria (e, portanto, "Bolsa Família"), mas uma região plena de potencialidades.


(*) Tânia Bacelar de Araújo, ex-secretária de Planejamento (1987-88) e da Fazenda do Estado de Pernambuco (1988-90) e ex-secretária Nacional de Políticas Regionais do Ministério da Integração Nacional (2003), é especialista em desenvolvimento regional, economista, socióloga e professora do Departamento de Economia da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).


...   ...   ...
Vou dizer mais o quê?

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

RAZÃO E OBSCURANTISMO

Esta é uma entrevista que não posso deixar de divulgar porque é tão simples, tão singela, tão evidente do que é o moralismo vigente (no jornalismo!!!) que parece até que não é verdade tudo por que passam, e passarão, os povos submetidos a políticas arbitrárias e ditatoriais que pretendem decidir sobre a vontade inalienável de cada cidadão.
A entrevistada é a Professora Gilberta Acselrad, Coordenadora do Núcleo de Estudos sobre drogas, Aids e direitos humanos da UFRJ.
A entrevistadora (céus!) é essa senhora que vocês conhecem -- Leilane Neubarth.


http://www.youtube.com/watch?v=J53SNRZgowU

www.integradaemarginal.blogspot.com...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

PARABÉNS SALGUEIRO! PARABÉNS PAYSANDU!

Parabéns Salgueiro! Vocês, assim como o ASA, o ICASA, o Atlético (GO) o Avaí e tantos outros derrubam por terra a desculpa de que a hegemonia do SPORT em Pernambuco é por fazer parte do Clube dos 13. Claro que dinheiro pesa, mas uma boa administração muito mais. Com uma folha salarial de cerca de R$ 80.000,00 e com o salário mais elevado na faixa de R$ 5.000,00 vocês estão merecidamente na Série B. Enquanto isso, o Santa Cruz é um time "fora de série"; o SPORT, que nunca deveria ter saído da Série A, está lutando para retornar à mesma; e o Náutico penando para manter-se na Série B. Por tudo isso, PARABÉNS SALGUEIRO!
Parabéns Paysandu! Pela dignidade, pelo ESPÍRITO ESPORTIVO.
Que belo exemplo:
Paysandu decepciona e perde merecidamente: 3x2

17/10/2010

A diretoria fez tudo o que estava ao seu alcance. A torcida fez uma das festas mais belas que a Curuzu já viu. Infelizmente os jogadores e comissão técnica decepcionaram e perderam merecidamente a oportunidade de subir para a Série B.

Mesmo com o Paysandu começando melhor e fazendo 1x0 com Bruno Rangel, ficava claro que o Salgueiro era superior jogando nos contra-ataques e com a fragilidade apresentada pelo meio-campo e defesa bicolor, ficou patente que o bom time do Salgueiro não demoraria a empatar o jogo, o que aconteceu ainda no primeiro tempo.

Enquanto o Paysandu apresentava claras dificuldades de posicionamento e preparo fisico, o Salgueiro esbanjava vitalidade e talento. No segundo tempo, com a entrada de Marquinhos e Lúcio o time bicolor deu um sufoco de 15 minutos no time adversário, mas a incompetência para marcar gols, permitiu ao Salgueiro em rápidos conra-ataques marcar dois gols e praticamente definir a partida. Paulão ainda marcou o segundo gol e foi só. Assim se conta, tristemente, a merecida derrota do Paysandu para uma equipe bem armada, talentosa e que jogava como se estivesse em casa.

A decepção é muito grande. Para toda a diretoria do Paysandu que fez o possível e o impossível para nada deixar faltar aos jogadores e para essa apaixonada e exuberante torcida do Paysandu que fez um espetáculo nas arquibancadas e ainda teve a serenidade de aplaudir o adversário ao término do jogo.

Confiamos, todavia, nessa diretoria que deve mudar quase tudo a partir de agora. A vida não terminou.O Paysandu continua vivo para o ano que vem. Vamos persistir e chegaremos aos nossos objetivos. Agora é uma questão de tempo. De saber esperar. Ano que vem poderemos estar aqui contando uma outra história. Parabéns a nossa torcida. Parabéns a nossa diretoria pelo trabalho feito. Parabéns, ao Salgueiro que demonstrou ter um excelente time e um bom técnico. Nós, do Paysandu, é lógico que estamos absolutamente tristes, mas somos dignos de reconhecer que nosso time, hoje, não merecia um resultado melhor. Os deuses do futebol punem quando um time não sabe recompensar sua torcida, sua diretoria. Fomos corretamente punidos. Aprendemos a lição. Ano que vem saberemos dar a volta por cima.

Data: 18/10/2010
Hora: 02:41:54
 
Por: Rodrigo Recife
Comentário:

"Caros amigos paraenses...confesso que entrei no site para enaltecer o futebol de pernambuco e chacotear um pouco vcs que hj estão de cabeça quente....mas desisto!!!! A dignidade de voces me "desarmou"!!!!Nunca vi uma atitude tão digna, sensata, honesta, decente, bela ( e passaria o resto da noite aqui empregando bons adjetivos)como essa de vcs de reconhecer de forma tão educada que o adversário, dentro daqueles 90 minutos, foi superior, e de demonstrar paixão pelo time ao falar da certeza de dias melhores, mesmo ainda num momento de decepção pela derrota....nunca vi, sinceramente, dignidade maior do que esta que vcs me mostraram hj, e por isso estou enviando o texto a vários sites de inúmeros times do brasil para que todos vejam que o paysandu realmente é muito maior do que todos imaginam, a começar porque tem uma torcida que tem o raro mérito de ter paixão sem ser indigno, e de ser digno sem deixar de enaltecer a paixão pelo time que ama.por fim , saibam que mais belo do que a vitória do time do meu estado foi esse ensinamento que o paysandu passa a todas as equipes do Brasil!!! Honestamente, para mim, depois de ter lido isso a classificação do bom time do salgueiro ficou ofuscada, virou coisa secundária....Sem falsa demagogia, desde que não jogue com o meu sport, a partir de hj serei PAYSANDU onde quer que ele esteja!!!! Parabens !!!!! estou orgulhoso de um time do meu estado ter ganho de um time tão valoroso quanto o de vcs!!!! Boa noite"

Esse comentário disse tudo! 

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

02 DE NOVEMBRO DE 2010: DIA "D" DA LEGALIZAÇÃO DA MACONHA!






No dia 02 de novembro o povo da Califórnia decidirá num plebiscito a aprovação ou não da Proposta 19  que legaliza a produção, venda e consumo de maconha para maiores de 21 anos. Caso seja aprovada, estima-se que elevará as receitas do Estado em cerca de 1,4 bilhão de dólares.

Segundo a última  pesquisa divulgada, se as eleições fossem no final de setembro, a proposta 19 seria vencedora com 7% de vantagem (49% das pessoas votariam sim, e 42% não).

O governador Arnold Schwarzenegger, antecipando-se ao plebiscito, resolveu sancionar uma norma que transforma a posse de maconha para uso próprio em uma infração administrativa semelhante às multas de trânsito. Ou seja, paga-se a multa administrativa e pronto: nada de polícia, nada de Justiça!

O Estado da Califórnia que em novembro de 1996, com o apoio de 56% dos seus cidadãos, aprovou a proposição 215 que regulamentou a Cannabis medicinal; em novembro deste ano, 14 anos depois, estará com a aprovação da proposição 219 dando um passo que, certamente, abalará as atuais políticas de drogas de todo o mundo! Espero.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

NEUROCIENTISTA DEFENDE USO MEDICINAL DA MACONHA

28 Maio 2010

 

Sidarta Ribeiro explica como a droga ilegal mais consumida no mundo sai da posição de vilã para promessa da medicina e da neurociência



Por Ingrid de Andrade e Tahiane Macêdo



Sidarta Ribeiro é mais jovem do que se espera para alguém com um currículo acadêmico tão extenso. Com 40 anos, é doutor em Neurociências pela Universidade Rockfeller (EUA,2000). Concluiu o Pós-doutorado pela Universidade Duke (EUA) em 2005, ano em que regressou ao Brasil como diretor de Pesquisas Científicas do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IIN-ELS). É ainda professor colaborador da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), pesquisador do Instituo de Ensino e Pesquisas do Hospital Sírio Libanês, e Pesquisador-colaborador da Duke University. Escreveu em co-autoria com Renato Malcher-Lopes o livro “Maconha, cérebro e Saúde”, onde descreve as propriedades medicinais, desmistifica e esclarece mitos sobre os efeitos psicológicos e comportamentais da maconha.


Ribeiro explica que maconha pode ser utilizada até em pacientes com câncer. (Foto: Tahiane Macêdo e Ingrid de Andrade/Fotec)
Ribeiro explica que maconha pode ser utilizada até em pacientes com câncer. (Foto: Tahiane Macêdo e Ingrid de Andrade/Fotec)





No livro você diz que “a maconha representa uma das mais promissoras fronteiras no desenvolvimento da neurobiologia e da medicina”. Qual é a sua importância científica?

A maconha tem mais de 70 substâncias diferentes, com ação psicoativa. Essas substâncias são pouco conhecidas, mas têm efeitos terapêuticos. Quanto mais a conhecemos mais vemos que ela tem efeitos terapêuticos. Do ponto de vista da medicina ela pode ser fonte de muitos remédios diferentes, e uma fonte barata. Do ponto de vista da neurociência, ela é, certamente, fonte de problemas científicos. O que cada uma dessas 70 substâncias fazem no hipocampo, no córtex, no cerebelo, no tálamo? E não é por acaso. A maconha foi selecionada ao longo do tempo para ter propriedades medicinais. Foi usada pelos xamãs do passado porque não existiam antibióticos, antidepressivos, ou analgésicos. Existiam as plantas e essas plantas “sagradas” foram selecionadas para terem propriedades medicinais. A maconha é só mais um caso.

Que barreiras a ilegalidade da planta impõe às pesquisas científicas?

Muitas. É muito difícil fazer esse tipo de pesquisa. Tem empresas nos Estados Unidos que vendem análogos químicos de substâncias encontradas na maconha, mas no Brasil não é possível comprar essas substâncias. Algumas pessoas conseguem, mas com autorizações muito especiais, é uma coisa complicada. No livro eu cito alguns pesquisadores que têm uma tradição no Brasil, porém são poucos nomes.

O livro fala da descoberta de moléculas receptoras as quais o THC se liga, tanto no cérebro quanto nos principais sistemas periféricos do organismo, formando um sistema conhecido como endocanabinóide. Como funciona esse sistema?

 Os receptores para os canabinóides estão no cérebro inteiro, principalmente em regiões de memória, regiões de equilíbrio de coordenação motora. São lipídios que são sintetizados na membrana e tem efeitos no neurônio pré-sináptico, que nós chamamos de efeito retrógrado.

Como a cannabis atua nesse sistema?

Ela atua nos receptores canabinóides ativando os receptores CB1. Onde houver receptor haverá efeito. A maconha tem 70 canabinóides, é um coquetel de compostos. Alguns ativam os receptores, outros não.

Que tipos de doenças podem ser tratadas com maconha?

Vários tipos de doenças diferentes, mas é uma pesquisa que ainda está em execução. O que está bastante claro é o caso do glaucoma que é o tratamento por diminuição da pressão intra-ocular, como ansiolítico, é evidentemente eficaz, e no caso dos sintomas do câncer.

Contrariando o argumento de que ela causa câncer, no livro você fala da ação antitumoral da planta. Como isso funciona?

Não existe nada comprovando cientificamente que maconha causa câncer. Tabagismo causa câncer. Talvez o seu principal problema seja o tabagismo. Mas ela não necessariamente precisa ser fumada. Se fosse legalizada, poderiam existir produtos disponíveis, que não agridem a saúde. Essa história do câncer começou nos anos 60. Havia toda uma tentativa de dizer que maconha era muito ruim, então essas pesquisas eram financiadas já com o resultado embutido. Existem algumas pesquisas desse período que dizem que ela causa câncer. Os dados citados no livro são do Instituto Nacional do Câncer dos EUA. Após 13 semanas (de experiências com THC em ratos) eles não associaram nenhum efeito patológico ao THC. Inclusive os animais sobreviveram mais e houve uma redução dos tumores nesse estudo em particular. É claro, que tudo isso depende da dose.

Quanto seria uma dose moderada?

Não me arrisco a dizer. Não posso dizer o que é uma dose segura, até porque é uma droga ilegal e ainda está em discussão na sociedade se pode, ou não, ser usada. O que eu posso afirmar é que não é uma droga que causa overdose. Outras drogas podem causar overdose, legais e ilegais. Toda a discussão do público deve passar por informações sobre as doses que causam diferentes efeitos.

Como ela funciona no tratamento de doenças crônicas como o glaucoma?

Estas doenças podem ser tratadas de várias maneiras. No caso do glaucoma, a maconha claramente diminui a pressão intra-ocular, então favorece o tratamento da doença. Por ter 70 substâncias psicoativas e bioativas diferentes, acaba sendo um remédio para muitos males diferentes. É possível que daqui a algum tempo, com o avanço das pesquisas, algumas substâncias possam ser isoladas. Mas isso não é de interesse da indústria farmacêutica, porque ela vende muito caro os remédios que patenteia e uma planta não pode ser patenteada.

O uso da maconha pode vir a substituir analgésicos, em alguns tratamentos, como o do câncer?

Maconha não é exatamente um analgésico, mas ela diminui bastante a ansiedade e torna a dor mais suportável. Para pacientes com câncer, por exemplo, ela pode ser muito útil. E ela é usada, nos Estados Unidos, legalmente para medicina, principalmente nesses casos, pois ela aumenta o apetite e diminui a ansiedade. Isso faz com que o paciente suporte melhor o tratamento. Nesse caso você não está tratando a causa da doença, está tratando os efeitos causados pelo tratamento. É muito importante, porque uma pessoa que está submetida à quimioterapia passa muito mal. Vomita, não quer se alimentar fica deprimida. A maconha melhora esse perfil, tornando a pessoa mais insensível à dor e mais capaz de contemplar a vida, apesar do que está acontecendo.

O consumo in natura pode substituir remédios para ansiedade?

Tudo indica que sim. Lembrando que, da forma inalada ela está associada ao tabagismo, então é provável que, se a maconha for legalizada para uso medicinal, outras formas de administração podem ser desenvolvidas.

No livro você fala da ação neuroprotetora da planta, contrariando uma antiga crença de que ela mata os neurônios. Como funciona essa ação neuroprotetora?

Existem algumas evidências de que ela pode funcionar de maneira a proteger contra a toxicidade causada, até mesmo, pelo próprio sistema. E se tem evidências de que pode favorecer a neurogênese, a formação de novos neurônios, no hipocampo em particular, que é uma região associada à memória. Existe um artigo em particular na literatura que diz que a maconha pode ter um efeito antidepressivo de longo prazo pela ativação de neurogênese no hipocampo. Essa é uma pesquisa recente e ainda precisa ser aprofundada, mas é bem diferente do que se falava tradicionalmente.


Quais são os grupos de risco em relação ao uso da maconha?

A gente fala no livro dos quatro grupos importantes: gestantes, jovens, pessoas com depressão crônica e pessoas psicóticas ou borderline, ou seja, pessoas que não tiveram o surto, mas podem ter. Isso é um pouco difícil de julgar. Como se pode saber que a pessoa vai ter se ela ainda não teve? Eu acredito que os dois lados do debate têm que ter equilíbrio. Pessoas que são totalmente contra, que acham que maconha é igual ao crack e heroína, têm que se informar, porque não é. E pessoas que são totalmente a favor e acham que maconha é bom para tudo também. Uma coisa importante que as pessoas pró-maconha têm que entender é que ela não é uma droga  sem riscos para qualquer pessoa. Existem grupos de risco, assim como qualquer substância tem.

O seu uso exclusivamente recreativo pode trazer benefícios à qualidade de vida das pessoas?

Acredito que a maior parte das pessoas usa de modo recreativo, não medicinal.  Se elas usam é porque acham que traz benefícios. Podem dizer “mas isso também vale para o crack. Usa crack porque acha bom” e no caso do crack é uma grande armadilha. Porque a pessoa acha bom e está morrendo, destruindo o cérebro, destruindo o fígado, o pulmão, as vias respiratórias. Pode não conseguir sair daquela doença por causa do vício. No caso da maconha não é assim, ela não causa nada parecido com isso. Os malefícios principais são os do tabagismo, que são muito menos graves, embora eu ache que devam ser mencionados. Por outro lado ela causa sensações de bem estar. As pessoas dizem que gostam de usar aquilo para aumentar a criatividade, sensibilidade... Eu sou da opinião de que não faz sentido liberar a maconha e proibir a cachaça. Eu acho que nós deveríamos ter uma atitude mais racional, mais formada pela ciência, que respeite mais as liberdades individuais e que proteja as pessoas com informação. Se uma pessoa souber de antemão que crack é quase um veneno de rato, é improvável que ela vá consumir. Temos que proteger o jovem das drogas e dar-lhes informação. Para que, quando ele for adulto, possa escolher, entre as drogas legais, aquelas que ele vai usar. E aí entra a discussão: por que é legal comprar um litro de cachaça e não legal comprar um grama de maconha? Mas isso é uma situação histórica que tem razões históricas e políticas, não científicas. Coisas que a sociedade tem que negociar.

Existe muita resistência da camada mais conservadora da sociedade de que ela possa trazer certos benefícios. Você acha que os argumentos pró-maconha podem vir a ser mais aceitos pela sociedade?

É uma tendência natural. Essa discussão está cada vez mais em pauta. Fernando Henrique Cardoso também está na linha de frente dessa discussão, e ele certamente não é um maconheiro cabeludo que quer defender a maconha só porque gosta. Ele quer dizer que a guerra contra as drogas não funciona. Não é um problema de polícia, é um problema de saúde pública. Não deveriam matar ninguém para impedir essa pessoa de se drogar. Nós deveríamos dar informação a essas pessoas, para que elas se protejam das drogas que fazem mal e das doses que fazem mal.


Fonte: http://www.fotec.ufrn.br/index.php/LabjoRN-Entrevistas/Neurocientista-defende-uso-medicinal-da-maconha.html