terça-feira, 23 de maio de 2017

SEGURA A COISA!*

  
 O ‘Primeiro Grito pela República’ nas Américas foi dado pelo Sargento-Mor Bernardo Vieira de Melo, no dia 10 de novembro de 1710, em Olinda. – Proeza que o Hino de Pernambuco registra assim:

“A República é filha de Olinda,
Alva estrela que fulge e não finda
De esplender com seus raios de luz.
Liberdade! Um teu filho proclama!
Dos escravos o peito se inflama
Ante o Sol dessa terra da Cruz!”

 Ó linda situação para se construir a liberdade!

 Em 1975, antenada com o movimento mundial pró-legalização da maconha, a cidade de Olinda enfeitou suas ruas para a passagem do primeiro movimento explícito e organizado a favor da legalização da maconha no Brasil: o bloco carnavalesco Segura a Coisa. Cujo hino, alguns anos depois, seria composto por Miúcha:

“Segura a coisa
Que eu chego já
Eu não me seguro
Eu tenho que pular
Quero me perder
Quero me encontrar
Perto de você
Quando a loucura começar

O bumba batendo
Levantando fumaça
É o bloco cantando
Contente com a massa
Quero me perder
Quero me soltar
Perto de você
Quando a loucura me deixar”

Fundado pelo saudoso Negão Aldifas, Pii, Ângelo, Xirumba e tantas outras figuras dos arredores dos Quatro Cantos; direta ou indiretamente, teve um pouquinho de participação de toda Olinda.

Pasmem! Durante os primeiros anos, a fim de atender à demanda da erva, Bumba – famoso traficante – montava ponto onde se formavam imensas filas! Apesar disso e, logicamente, de inúmeros conflitos com a Polícia, o Bloco nunca deixou de sair.
 
Esse pioneirismo do Segura a Coisa, fica ainda mais espantoso ao lembrarmos que estávamos em plena ditadura militar. Naquele mesmo ano, o jornalista Vladimir Herzog seria "suicidado" nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo; e seis anos depois, viria a ocorrer o atentado do Riocentro, no Rio de Janeiro!

Vale ressaltar que a ideia de uma marcha internacional pela maconha só iria acontecer, na cidade de Nova York, em 1998. No Brasil, simplesmente denominada como ‘Marcha da Maconha’, chegou na cidade do Rio de Janeiro, em 2002. Contudo, só a partir de 2011, com o julgamento da ADPF 187 pelo Superior Tribunal Federal – STF, manifestações como essas ‘Marchas’ deixaram de ser consideradas como apologia às drogas ou ao crime.

De fato, além de não fazer apologia às drogas, o Segura a Coisa vai muito além de seus desfiles de Carnaval. Desde o início, sempre houve uma preocupação com sua responsabilidade social. Razão pela qual, incorporou à sua luta: o direito à educação, o direito à saúde, os direitos da mulher e, entre outros, o combate à homofobia.

Hoje, com blocos carnavalescos na defesa da maconha em quase todos os estados brasileiros, a exemplo de o ‘Planta na Mente’, que arrasta uma multidão no Rio de Janeiro; e o ‘BloCannabis’, que estreou com o pé direito em Brasília; sem sombra de dúvidas, podemos afirmar: o pioneirismo do Segura a Coisa vem fazendo escola.

Sob o comando de Okki Das Olinda, que diz: “Eles estavam errados. Há 42 anos nós já tínhamos razão!!!”, o Segura a coisa te espera às 23h59min da Quarta-Feira de Cinzas de 2018.

Nos vemos lá!






Negão Aldifas (Aldifas Santos - Integrante Imortal da Academia Olindense das Letras Etílicas e Herbíferas), o fundador do Segura a Coisa.
             Foto: Tiuré Poti                                           

(*) Artigo publicado originalmente no # 10 da Revista Maconha Brasil.


terça-feira, 18 de abril de 2017

MUITO ALÉM DO CIDADÃO KANE*

              E A ENGANAÇÃO VAI MUITO ALÉM DAS DROGAS...
              Após os ataques às torres gêmeas do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, com a população ainda assustada e temendo novos ataques terroristas, o presidente Bush teve todo apoio da mídia (e da população) para invadir o Iraque, em 2003. Para isso, afirmou que o regime de Saddam Hussein estava produzindo armas químico-biológicas de destruição em massa, que poderiam ser repassadas aos terroristas da “Al Qaeda”, de Osama bin Laden. Assim, escudado nessa MENTIRA, à revelia da ONU, os Estados Unidos invadiram o Iraque. – Numa guerra “vendida” como se fosse um videogame, com tecnologia de precisão cirúrgica, que só atingiria alvos militares ou terroristas, destruíram boa parte de Bagdá e 70% de Fallujah. Inescrupulosamente, usaram armas químicas (fósforo branco); torturaram prisioneiros; e massacraram a população civil, deixando – dependendo da fonte – mais de 100.000 ou de 650.000 mortos! Enfim, enforcaram Saddam Hussein e deixaram o Iraque no caos. Ah, logicamente, sem encontrar as inexistentes armas!
              Sabe o que é pior? Os Estados Unidos, o Reino Unido – principal aliado da coalizão –, a ONU, a mídia... Todos sabiam que o Iraque não tinha arma química nenhuma!
              No “Youtube”, assista a “THE WAR YOU DON’T SEE” (A GUERRA QUE VOCÊ NÃO VÊ), filme documentário dirigido por                                        John Pilger, 2010 – www.youtube.com/watch?v=pskjzl2czKg. E veja como, pela mídia, somos enganados! 
              Se mesmo nos Estados Unidos, com a audiência dividida entre 5 grandes redes de TV aberta (ABC, CBS, NBC, Fox e The CW) e uma poderosa rede de notícias a cabo (CNN), a opinião pública é manipulada... Imagine no Brasil, principalmente nos anos 80 – sem internet –, onde apenas 5,4% da população comprava jornais, e uma única rede de TV detinha mais de 70% da audiência dos telespectadores! – Isso não significa dizer que a população era desinformada, mas que a televisão era quase o seu único meio de informação. – Sobre drogas... e sobre tudo!               
              Lembra de William Randolph Hearst, o magnata das comunicações da “Cruzada Contra a Maconha”, cuja vida inspirou Orson Welles na criação de CIDADÃO KANE? Agora, vamos lhe falar de “Beyond Citizen Kane” (MUITO ALÉM DO CIDADÃO KANE), filme documentário britânico, dirigido por Simon Hartog, 1993. Ele retrata a posição dominante da Rede Globo e a influência, as conexões políticas e o poder do seu fundador, Roberto Marinho, comparando-o a Charles Foster Kane, o personagem criado por Orson Welles para o filme Cidadão Kane, em 1941. Segundo o documentário, a Rede Globo manipula notícias para influenciar a opinião pública. Entre os casos relatados, chama a atenção a tentativa de fraudar a eleição de Brizola para governador do Rio de Janeiro, em 1982 e a armação do debate decisivo da eleição de 1989, que na prática elegeu Fernando Collor. – A Rede Globo fez de tudo para proibir a exibição desse filme. No exterior, foi exibido no “Channel 4”, de Londres. No Brasil, nunca foi exibido nas televisões ou nos cinemas, mas circulou “livremente” nos circuitos universitários. Atualmente, há várias versões disponíveis no “Youtube”. Assista-o! E veja como somos manipulados!
               Se a mídia sustenta a mentira de interesse de terceiros (grupos econômicos, governantes, políticos e autoridades de saúde e de segurança), imagine quando o principal interessado é ela própria: a Rede Globo, a Editora Abril... a Flapress!
              Em primeiro lugar, o verdadeiro nome do campeonato brasileiro de 1987 é Copa Brasil. O nome massificado pela mídia, Copa União, era apenas o apelido do módulo verde.
              Contudo, no Rio de Janeiro, no “Verão da Lata”, a mentira se alastrava mais do que a maconha do Solana Star...
              Apesar disso, segundo o Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, de 11 de setembro de 1987, pág. 27, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Otávio Pinto Guimarães, anunciou o acordo com o Clube dos 13, no dia 03 de setembro de 1987. O campeonato teria uma primeira divisão com 32 clubes, divididos em dois módulos, mantendo os 16 indicados pelo Clube dos 13 em uma das chaves, com o cruzamento final entre os dois melhores dos dois módulos. Portanto, tudo foi definido oito dias antes do início do campeonato.
              Fato que, em sua monografia para conclusão do curso de Jornalismo (“1987: O ANO SEM CAMPEÃO”, São Paulo, 2012), Esther Morel descreveu assim:

              “Ou seja: o primeiro e único regulamento da Copa Brasil era legítimo e garantia a definição do vencedor pelo cruzamento entre os módulos, além da classificação para a Libertadores. O poder de decisão foi dado ao diretor vascaíno, mas o problema é que, depois, o C13 não concordou com o que foi acatado por ele na reunião com a CBF.Grifamos.

              E para dobrar os renitentes, só nos resta recorrer ao versículo 65 da Bíblia! Ops, página 65 da Bíblia do Flamengo, Luís Miguel Pereira, Almedina, 2010:

              “Em 1987, o Campeonato Brasileiro foi dividido em dois módulos, verde e amarelo. O Flamengo venceu o primeiro enquanto o Sport ganhou o segundo. O regulamento previa o cruzamento dos dois campeões para apurar quem ficava com o título brasileiro desse ano. Mas o Flamengo se recusou a defrontar o Sport, por considerar a vitória no módulo verde chegava para ser campeão. A CBF promoveu então um encontro Sport e Guarani – 1º e 2º do módulo amarelo – para apurar o vencedor. O Sport venceu e foi declarado oficialmente campeão brasileiro de 1987. (...)Grifamos.             

              No entanto, a Rede Globo e os demais jornalistas integrantes da Flapress vêm invertendo os fatos e perpetuando a mentira. Para isso, dizem que a CBF e o SPORT modificaram o regulamento com o campeonato em andamento. Quando, na verdade, ocorreu o contrário: foi o Flamengo, o Clube dos 13 e o Conselho Nacional de Desportos - CND, que quiseram modificá-lo. Mas, na votação dos clubes participantes, não obtiveram a imprescindível unanimidade.             
              Todavia, acreditando na força do Clube dos 13, da Rede Globo e da Coca-Cola – patrocinadora do módulo verde –, o Flamengo, prepotentemente, furtou-se ao cruzamento com os vencedores do módulo amarelo. PERDEU POR W.O.!
              Na partida final, o SPORT venceu o Guarani por 1x0, que, como no ano anterior, foi vice-campeão brasileiro de novo! Assim, conforme publicou também o Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, em 08 de fevereiro de 1988, pág. 28, o SPORT foi o campeão brasileiro de 1987. Por isso, mordazmente, Euritônio Pereira nos pôs a cantar:

“ (...) Da luta veio a vitória
Contra a escória do futebol
Castores, Tubinos, Bragas
E outras pragas da mesma escol
No gramado venceu contra quem jogou
E nos Tribunais deu em quem fugiu
Saudemos com orgulho e destemor
SPORT, CAMPEÃO DO BRASIL! (...)”
  
              E para que, de uma vez por todas, essa história tivesse fim, no dia 08 de abril de 2014, com uma goleada de 4x1, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), cujo Acórdão foi publicado no dia 30 de setembro de 2014, a Justiça brasileira ratificou:

“O SPORT É O ÚNICO CAMPEÃO BRASILEIRO DE 1987!”

              Antes do seu decisivo voto em favor do SPORT, o Ministro SIDNEI BENETI fez questão de frisar:

              “Permita-se, por fim, ressaltar a importância social imensa do respeito à coisa julgada, produzida pelos julgamentos do Poder Judiciário, de modo que o exemplo, em setor de grande repercussão geral como o esporte, produz relevante efeito pedagógico para toda a sociedade.

              Recentemente, questionado sobre o porquê do lançamento da camisa Diego Souza 87, o presidente do SPORT, João Humberto Martorelli, respondeu:

              “Foi para nossa torcida. Agora, se a torcida do Flamengo ficar chateada, direito dela. É o que chamo de 'júris esperneantes', o direito de espernear.” 



1 - Estevam, capitão do SPORT, levantando a Taça de Bolinhas, 1988.
2 - Diego Souza, novo craque do SPORT, chegando ao Recife, 2014.
Fotos: 1 - Arquivo/DP/D.A Press; e 2 - Lucas Liausu
              

              E, como diria Chicó, personagem de Ariano “Felicidade é torcer pelo Sport” Suassuna: SÓ SEI QUE FOI ASSIM!

(*) Artigo publicado originalmente no posfácio de nosso livro 'Tá todo o mundo enganado!', editado pela Editora Babecco, em Olinda, 2014.