Por: UBIRAJARA RAMOS*
Em 22/11/2014, a página Opinião
ZH, do Grupo RBS, de Porto Alegre, publicou o artigo “MACONHA MEDICINAL: VAMOS
RECEITAR JARARACAS?”, onde o psiquiatra Sérgio de Paula Ramos faz capcioso paralelo
entre o canabidiol (CBD), derivado da maconha, com a bradicinina, encontrada no
veneno de jararaca, usada como remédio para baixar a pressão arterial. Em 11/06/2015,
requentada pelo psiquiatra Marcos Estevão S. Moura, no artigo “'POR QUE NÃO
LIBERAR?”, publicado no Correio do Estado, de Campo Grande (MS), a polêmica comparação voltou à baila.
Defensores do retrógrado PLC
37/2013, do deputado federal Osmar Terra (PMDB/RS), que visa exacerbar, no
Brasil, a fracassada Política de Guerra às Drogas Mundial, esses psiquiatras destilam
mais veneno do que as jararacas de seus artigos. Senão, vejamos: no Brasil, segundo
o artigo “Envenenamento Crotálico: epidemiologia, insuficiência renal aguda e
outras manifestações clínicas”, publicado na Revista Eletrônica Pesquisa
Médica, Vol. 2, nº 2, as Bothrops são responsáveis por 90,5% das picadas de
cobras, à taxa de letalidade de 0,31%, com as notificações de 2005
contabilizando 185 MORTES; enquanto a
maconha, em 10.000 anos, nunca matou ninguém!
Quanto à segurança da droga,
não custa lembrar: overdose de água mata. Maconha, não!
No entanto, ao que parece, os
citados psiquiatras não foram buscar inspiração na ciência, mas no fantasioso e
aterrorizador artigo “Maconha – Assassina da Juventude”, escrito por Harry
Jacob Anslinger, em sua CRUZADA CONTRA A MACONHA, em 1937: “O assassino foi um
narcótico conhecido na América como maconha, e na História como haxixe. É um
narcótico utilizado sob a forma de cigarros, relativamente novo para os Estados
Unidos e tão perigoso quanto uma cascavel enrolada.” Apenas trocaram a cobra:
sai cascavel; entra jararaca!
Por outro lado, o tratamento
com MACONHA que vem sendo aplicado COM SUCESSO em crianças com raros casos de
epilepsia infantil – onde todo o arsenal médico disponível fracassou –, segundo
o “PROVINCIAL MEDICAL JOURNAL”, de Londres, já era utilizado
pelo Dr. O’Shaughnessy, em 1843. Portanto, a referida comparação não passa de
um embuste embasado em preconceito e ignorância, ou pior: em escusos interesses
econômicos, uma vez que estamos diante de uma “novidade” conhecida pela Medicina
há 172 anos!
No
caso, vem a calhar as palavras do Dr. Elisaldo Carlini, farmacologista da
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), estudioso do assunto há mais de 50
anos, na Conferência da 58ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência (SBPC): “Pura burocracia, preconceito e desinformação.
(...) Não há mais empecilhos científicos para que a maconha seja liberada para
fins de pesquisas e uso medicinal, mas há sempre a barreira social e política.
As restrições que existem são mais de cunho ideológico e moralista e partem de
pessoas que simplesmente não querem aceitar que a maconha não é a erva do
diabo.”
Então, baseado nisso, vamos
liberar e receitar a maconha!
______________
* Pesquisador
independente, é autor de TÁ TODO O MUNDO ENGANADO! – Sobre a Maconha e a Política
de Guerra às Drogas Mundial. Olinda (PE): Editora Babecco, 2014.